quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

Viagens & Aventuras - Montanha

Aconcágua

Conquistar o Topo das Américas

“Topo do Ocidente”, “Cume das Américas”, “Um pequeno 8.000” ou … o mais alto cume do mundo, se não contarmos com os Himalaias. São várias as designações que descrevem a grandeza do Aconcágua, um 7.000 com caracteristicas muito especiais !!!

A ideia surge quase naturalmente após cumprir as etapas dos 3.000 metros em Espanha, dos 4.000 em Marrocos, dos 4.800 no Monte Branco ou dos quase 6.000 do Kilimanjaro.

Na fase de treino subi ao Teide de 3.718m (Tenerife), o mais alto de Espanha, em Setembro e ao Mulhacén, 3.482m (na Serra Nevada), em Novembro.

O reboliço do Natal e fim de ano com uns dias de ski pelo meio nem deixou espaço para sentir aquela ansiedade pré-viagem. No dia 2 às 22h15, parti da Portela, num Boing 767 da Varig, com destino a Santiago do Chile e escala em São Paulo. Pelas 22h50 atingiamos a altitude de 10.700, a velocidade de 700km/h e a temperatura de –53º no exterior. Estávamos a 7.700 km do destino.

No dia 3, pelas 7h00 chego a S. Paulo. Lá fora está neblina, imagino que quente e húmido tambem. Espero 3 horas. Vou revendo mentalmente os “procedimentos” para o Aconcágua. Já tenho uma boa imagem mental do que me espera, mas sei que as surpresas, imprevistos e dificuldades surgirão e tento antecipá-las. Nestes momentos outro pensamento que me ocorre é o de que levo peso demasiado. Mas tambem já não posso reduzir mais e ainda precisava ter trazido outras coisas, como sandálias, pois as pesadas botas de montanha são o meu unico calçado para 23 dias !

O avião parte com ligeiro atraso para Santiago, sobrevoando Foz do Iguaçu, Assunção, Mendoza e o Aconcágua. A vista da cordilheira andina é impressionante! Chegado a Santiago pelas 14h00, tomo de imediato o autocarro para a Estacion Internacional de Buses. Só tenho autocarro para Mendoza às 22h00. Então, tomo o metro para a parte mais central e percorro o Paseo Ahumada, atravessando um mar de pessoas até à Plaza de Armas, o verdadeiro downtown, com muitos estrangeiros, mimos, leitores de tarot, exposições de pinturas a dedo, um concorrido torneio de xadrez, filas para o cinema (em cartaz todas as novidades) e muitas lojas nas ruas em redor da praça. Encontro mapas e informação turistica na vistosa Casa Colorada. Avisto o funicular no cerro San Cristobal (interessante ver tambem o Museu, o Parque Florestal Bellas Artes e os jardins do cerro Santa Lucia). Dizem que Santiago se torna perigoso, mas vejo muitos policias pelas ruas. Provo as empanadas ! Volto à Plaza de Armas para me sentar na esplanada Marco Polo a saborear um gelado e a observar os passantes, antes de regressar para jantar e tomar o bus para Mendoza. O autocarro levará 8h e devo chegar pelas 6h30 da manhã.
1h30: aduana chilena. Passamos o túnel a 3.185m. Faltam 5 horas desesperantes. 2h30: aduana argentina - check à bagagem. Impossivel dormir …

6h15 do dia 4. Estou em Mendoza. Sinto de imediato uma atmosfera especial, uma calma e frescura no ar, talvez resultado das muitas árvores (Plátanos por ex.) em redor. Enquanto aguardo que abra o posto de turismo converso com o Sr. Juan Carlos que simpaticamente me fala do modo de vida naquelas paragens, da agricultura, do bom vinho, da desgraça da venda dos recursos locais aos americanos … Depois, o sr. acompanhou-me até uma casa de cambios no centro. Sigo a pé pelo centro em busca de uma hospedagem barata que me indicaram, evitando os Hosteis internacionais mais concorridos e com quartos partilhados. Preciso descançar ! Percorro vários quarteirões da quadricula tipica das cidades destas paragens. Ainda de manhã vou tratar do “permisso” para o Aconcágua (200 USD), de caminho alugo uma bicicleta tt para ir mais rápido (10 USD), e depois dou uma volta pelo parque San Martin – verde, grande, bonito. Almoço num fast food conhecido, por comodidade. Compro gás, trato do transporte para o Aconcágua na loja El Refugio e vou a compras: planeio comida para 10 dias, sabendo que posso recorrer a refeições locais em caso de necessidade. Encontro apenas latas sem abertura fácil, latas de “molho português” (tomate) !, pacotes de 1,2L leite para bébé. Nada de latas com carne, nada de comida energética (bom, umas barras de cereais!). . .
Janto pizza numa esplanada de rua, a uma temperatura muito agradável e, finalmente … vou dormir !

8h30 do dia 5: encontro os Espanhois de Albacete (3 + uma rapariga) e partimos pelas 9h00 para Puente del Inca, numa carrinha. Alem do Roger (condutor), seguem tambem um casal jovem de argentinos e um alemão entradote com um amigo de Buenos Aires. A viagem decorre animada, chupando o mate ao som de vários ritmos. Alguem avista um Guanaco junto ao rio … O tempo está bom e a expectativa é grande. Anseio por começar! Ao longe o Tupungato, com perto de 6.000m, mostra o seu cume nevado.
Em Penitentes deixamos o alemão & cia. e “carregamos” mais uma italiana com um guia. São mais 6 km até Puente del Inca, onde deixamos o casal argentino. Mais 2 km e estamos na estrada de terra que leva à entrada do parque. Um forasteiro reza ao cristo andino, o santo protector do parque provincial criado em 1983. 13h20 em Los Horcones - nota-se a alegria de começar. As malas ficam na carrinha e serão transportadas por mulas até ao campo base, daqui a 2 dias. Despachamos as formalidades com os guarda-parques e … toca a subir.
Em 2h20 eu e o Luis chegamos ao acampamento de Confluência. Estamos a 3.368m. Escolhemos o local para montar a tenda e somos recebidos na “tenda-restaurante”, pela alegre Gringa que serve e anima o jantar. Após a refeição juntam-se os guias Leo e Alfredo (este conduz um grupo da TV3 catalã num programa tipo “grand hermano”) e reunimos para conversar e provar vinhos de diversas proveniencias, entre os quais um óptimo Tocornal da zona de Mendoza. Rimos com a situação dos concorrentes da TV3 e imaginamos partidas para lhes pregar... Explicam-me que o Aconcágua é considerado um pequeno 8 mil porque as suas condições são mais frias e mais secas do que nos Himalaias. Como tal, há himalaístas que fazem aqui a sua preparação. Há !!! recomendam-me tambem o tinto Viniterra.
Dia 6. Ao inicio do dia fiz um balanço: uma queimadura do sol nos ante-braços, o colchão furado e o facto de me sentir bem. Ou seja, montanha 2 x Zé 1. Parti às 08h05 e cheguei a Plaza de Mulas (4.230m.) após 7h. Este percurso inicia-se com uma ligeira subida até entrar num vale muito longo. O caminho é fácil mas longo. Parece um deserto, a que chamei “pequeno Atakama”. O sol bate forte e não podemos tirar a roupa porque rápidamente sofreriamos queimaduras. Por vezes temos que atravessar o riacho a salto e é necessário cuidado porque molhar o calçado seria um transtorno. Logo que me instalei fui à tenda dos médicos analisar os meus niveis de hemoglobina. Apresentava uma taxa de 77%, o que é normal.
O céu mantem-se limpo. Há noticias, não confirmadas de mau tempo para os próximos 2 a 3 dias. Encomendo jantar no campo base. São 15 USD, mas valerá a pena.
Preparo o dia seguinte. A minha mala já chegou. Separo tudo, abasteço-me de água. Grande calor dentro da tenda. Tenho que pôr a cabeça de fora e deixar o ar fazer corrente.
Ao jantar serviram-me um excelente esparguete com hamburgueres e pão caseiro (feito ali mesmo) + sopa + melocoton + sumo de limão. Não consegui acabar !!! Depois acompanhei um grupo de 7 noruegueses. Não percebi pêva. A menina da cozinha, unica responsável deste acampamento, entrou para me dar a sobremesa e pôs-me a par das historias dos seus clientes evacuados. Ontem foi um francês, com edema pulmonar. Em Dezembro foi um brasileiro, que teve que ser colocado na câmara de pressão (por sinal um campeão de natação no Brasil) e o seu amigo com 2 dedos coagulados. Enfim, histórias pouco motivadoras, mas a levar em consideração. Encontro os outros portugueses.
Dia 7: Não consegui dormir ! É natural na primeira noite a esta altitude. Saio pelas 09h00 para uma caminhada de aclimatação em direcção ao glaciar (sentido Oeste do acampamento). Subo até cerca dos 4.900m., caminhando sobre gêlo e por entre “pendientes” (fomações pinaculares com um a dois metro e altura, resultantes da erosão do vento). 2h30 para subir e mais 1h30 de regresso.
Chegam os espanhóis ao campo base e comentam a dureza da etapa. O Luis não veio. Parecia bem no primeiro dia, mas acusou uma dôr de garganta e acabou por descer.
Preparo água e o plano de transporte de equipamento para o acampamento a 5.350m. Ao cair da tarde e de copo na mão (de água), com o Garcia e os outros, gozamos a chegada do grupo “grand hermano”. Janto com os espanhóis, a Tereza da Sardenha e o seu guia, Leo. Com o pôr do sol (pelas 21h00) vai aumentando o vento e o frio. Da tenda-refeitório só directo para o saco-cama.
Dia 8: Acordo antes das 7h, aflito para ir à retrete. Parto às 8h00 para Nido de Condores (5.350m.), com cerca de 7 kg de equipamento que vou lá deixar. Com a altitude, e apesar do sol bater forte, o frio aumenta. A última parte do percurso (um terço que não se vê do campo base) foi mais custosa. Demoro 4,5h. Falo com os guarda-parque que estão atarefados a coordenar o resgate de várias pessoas acima do campo Berlin (5.900m.), que sofrem de frio e fatiga. O vento está forte lá em cima. Mais tarde o Ariel ensina-me os nomes de alguns cumes próximos (da direita para a esquerda): o “Manos”, o “San Cristoban”, o “Corno”, o “Horcones” e o “Manos sucias”. Sem me demorar, regresso em 1h20 ao campo base, coberto de pó. Vou fazer os testes e no dia seguinte parto de novo para cima com a tenda. A estratégia é levar logo as roupas-trunfo, para não sofrer frio, e despi-las apenas depois de descer do cume … Agora tenho que me esforçar por beber os 5 litros de liquidos/dia recomendados e arranjar cordas para prender melhor a tenda às pedras, em Nido. Mantenho o óptimismo, mas sei que vai ser duro !
Dia 9: Subida a Nido, com a tenda - 4h30. O saco estava no mesmo sitio e ao lado estava já armada uma tenda de 2 americanos. A estes eu viria a “batizar” de Beavis e Buthead … Não perguntem quem era qual !
O vento soprou forte na primeira noite acima dos 5.000m. A tenda, presa com pedras por dentro e por fora, abana ruidosamente. Duvido que resista sem estragos (acabou por sofrer pequenos rasgos nas abas de protecção para neve).
Dia 10: Subida a Berlim (2 horas) e regresso (1 hora) com o objectivo de aclimatar e reconhecer o caminho. Descançar e fazer liquidos é como passo o resto do dia. Tenhos as mãos e a roupa muito sujas. A partir de hoje a palavra higiene perde o sentido …
2ª noite: o pior era ouvir os comentários tolos dos americanos, depois o desconforto do chão irregular não alisado pelo meu colchão furado e depois, o ruido do vento forte. Amanhã é dia de cume.
Dia 11: Acordo às 4h50. Não consigo dormir. Aturdido pelo desconforto e frio, começo a aquecer água e a preparar as coisas. Bebo uma sopa quente e parto às 6h10, já com luz (nem levo lanterna), levando na mochila crampons, máquina fotogáfica, comida e liquidos. Cá de baixo não observo ninguem no caminho. 15 minutos após a partida passa por mim a correr para baixo um americano com as botas desapertadas. O “buddy” aparece logo após e explica que o outro tinha os dedos a congelar. 7h40 estou em Berlim. Descanço uns minutos e deixo o resto de uma sandes e 1 bidon de água no refúgio. Aqui apanho um grupo e passo-o na subida. Em Piedras Blancas, pergunto a alguem se estamos em Independência. Não ! Ainda faltam umas horas. Cerca de duas horas depois, em Independência (um pequeno abrigo de madeira a 6.250m.), colo-me a 2 franceses e um guia que me pareceram ir muito devagar, mas logo vejo que vão bem e até melhor que eu. As cristas sucedem-se sem ter vista do cume. Começo a sentir dificuldades. Acuso o cansaço, mas vou bem abrigado do frio (os pés vão no limite minimo). Ofegante e sem ver o objectivo, pensei em desistir. Só a ideia de alcançar o próximo ponto alto para ver a nova vista, me fez continuar. Até que, quase inesperadamente, cheguei à Canaleta, considerado um ponto de passagem determinante. Dali podia avistar o caminho para o cume, bem como outros montanhistas a meio da encosta. “Quem faz a canaleta já chegou ao cume”, dizem. Encontro ali um alemão apreensivo que me diz: “it’s to windy for me”, e foi-se para baixo. Vento ? Qual vento ?! O facto de ver o objectivo motivava-me. Largo ali a mochila com duas pedras em cima, faço a última foto e prossigo com os crampons na mão. Havia duas passagens geladas, sem grande dificuldade e o vento não atrapalhava. O pior era a cascalheira no final da Canaleta que faz escorregar um passo a cada dois. De novo acuso o esforço, com a respiração no limite a cada 3 passos. Ainda me falta uma hora para o cume apesar de serem apenas uns 300 metros. Uma tempestade aproxima-se, tal como previsto no dia anterior. A visibilidade vai ficar comprometida. Um outro montanhista que passara por mim há pouco, começa a descer…
Tenho que contar com a duração e esforço da descida e, dadas as circunstancias, é melhor uma decisão dificil do que ter ali um “treco”. Lembro-me do relato de uns brasileiros que fizeram esta ascenção uns anos antes, em que descrevem que ao descer passam por um coreano meio morto a quem não têm força para dar a mão. Tambem a primeira mulher a alcançar este cume, uma espanhola, em 1958, simplesmente morreu ao chegar ao campo base. A descida tambem é exigente e sinto as pernas e o corpo fraco. Necessitava de mais liquidos e comida, mas durante a subida não tive apetite. Com o cume à vista decido descer. Chego a Berlim pelas 15h30 e dormi no abrigo uns 10 minutos que me pareceram uma hora. Continuei a descer para Nido onde cheguei pelas 16h30. Deitei-me de pronto a dormir até me levantar às 8h00 de dia 12. Foram só 15 horas !!!
Dia 12: Acordo e arrumo tudo enquanto o sol chega para aquecer um pouco. Saio pelas 10h30 e chego a Plaza de Mulas às 12h00. Estão uns franceses prontos a sair e tento incluir a minha bagagem nas mulas deles. Vai a mala com tudo para Penitentes e a mochila para o acampamento de Confluência. Assim desço mais leve. Aqui deixaram perder o meu saco do lixo e alguns mantimentos, pelo que me compensaram oferecendo-me um almoço farto. Às 14h05 estou pronto para partir de novo. O estômago cheio não incomoda porque vai desaparecer no final desta caminhada. Chego a Confluência às 18h25 (4h20 de caminho). Falo com uma brasileira, Amália, e o seu guia. Jantamos os 3 com a Gringa: bifes com ovo para mim, pasta para os outros … Os passaritos “dormilona” visitam a entrada da nossa tenda-refeitório enquanto apreciamos os ultimos raios de sol ao som do folclor argentino – Los Chalchaleros. Abandono este acampamento às 20h40 e arrisco descer tudo até Puente del Inca, em busca de uma boa cama. Passo em Horcones pelas 22h30, já escuro e com os pés a doer. O guarda-parque exclama: “um poco tarde, no !?”. Ás 23h30 estou num albergue em Puente del Inca, tomo um longo banho quente e às 24h00 estou na cama … Tenho as unhas dos dedos grandes em sangue. Mas valeu a pena !!!

Acordo dorido e com tosse (“tos de perro”), mas dormi excelentemente. Passo dois dias a recuperar nas águas quentes (38º) e sulfurosas das termas de Puente del Inca. Neste local existiu um hotel inglês até ser derrubado por uma avalancha, faz umas décadas. A partir do albergue militar rodopio pela zona. Conheço várias pessoas interessantes e alguem me recomenda visitar os 7 lagos no Sul do Chile, cheios de natureza e actividades de aventura para descobrir. Foi isso que fui descobrir com os 10 dias que me sobravam …
Entre cavalgadas, banhos em termas naturais e rafting, aproveitei a embalagem para subir tambem os 2.900m. do vulcão Villarica.

Texto e Fotografia
José Tavares

Guia completo:
Se pretende viajar ao Aconcagua consulte-nos para organizar a sua expediçao ou consulte toda a informação necessária em “Conquistar o topo das Américas”. O guia completo no valor de 12 € é oferecido no caso de organizar-mos a sua expedição (tm. 93 8608797 ou mail: active.outdoors@clix.pt).










Pico

Aventura nos Açores

Conhecer a beleza das ilhas do grupo central, com um objectivo principal: subir o Pico. Objectivos secundarios: atravessar o canal em kayak, descer às Fajãs de S. Jorge, mergulhar e ver cetáceos, provar as iguarias (como o famoso Verdelho …). O relato de um aventureiro !!!

Em kayak
Chegado à Horta, atirei-me de cabeça ao principal objectivo. Na primeira noite fiquei num quarto alugado e informei-me da possibilidade de utilizar um kayak. Por grande coincidencia encontrei na mesma hora 4 pessoas conhecidas no Peter´s Café (em que outro sitio poderia ser !?!). Trocamos valiosas informações. Ainda passeei nas redondezas e tomei um excelente banho na praia de Porto Pim, ao final da tarde.
No dia seguinte estava pronto bem cedo. Parti antes das 9h depois de transportar o kayak para a praia, carregá-lo, afiná-lo e fazer um ligeiro aquecimento. Contornei o Monte da Guia, espreitando na Caldeira do Inferno (zona protegida), remando contra a corrente. Um barquito cabinado acompanhou-me à distancia ! Uma paragem frente ao pontão do porto da Horta: descanço por momentos e bebo uns goles de água, enquanto o barco se afasta. Aqui começa a travessia. Com o mar calmo e alguma corrente, em especial junto dos ilhéus, percorro as 5 milhas (aprox. 9,3 km) em hora e um quarto. Algumas Cagarras, silenciosamente, fazem-me vôos razantes. Nos ilhéus observo as fendas e o fundo (excelente para mergulho) e chego a Madalena sem problemas. Não precisei de muito tempo para me preparar para a escalada: arrumar o kayak, retirar a mochila, vestir-me, comer e comprar fruta para o caminho …

Na Montanha
Apanhei uma boleia, à saida da Madalena, de um estudante que já tinha feito a subida, mas com mau tempo. Ele era dali e estava de férias dos estudos em Lisboa. O caminho é lindo, cheio de Hortências a rebordar a estrada. Ainda a meio da manhã (11h30) estou no ponto de inicio da subida. Só falta registar-me junto dos bombeiros. Um grupo de jovens descançava após a descida - provávelmente dormiram no topo. Durante a minha subida o nevoeiro e as nuvens aparecem e desaparecem. Por vezes largam água. Em certo ponto tive que parar para vestir o impermeável e abrigar-me debaixo de um plástico estratégicamente deixado por ali. Admiro-me como certas pessoas iniciam a subida completamente desprotegidas …!!! Já perto da cratera cruzo-me com o Filipe que vem a guiar dois clientes. Eles tiveram sorte com as vistas … Às 14h00 estava eu na cratera !
Comecei por procurar e preparar um cantinho para pernoitar e assim que vi uma aberta melhor, desatei a subir ao piquinho. Foram 10 minutos a ‘arranhar’ bem para alcançar os 2.351 metros de altitude. Sim, agora estava no topo! O tempo, entretanto, voltou a encobrir por baixo de mim, mas ali estava um quentinho delicioso. Como que jogando comigo, as nuvens só raramente me deixaram ver o Faial e S. Jorge, até que começaram a subir, acabando por me envolver. Depois começou a chover miúdinho !!! Colei-me então aos buracos da rocha, de onde sái um forte calor, para ir secando. À falta de perspectiva de melhoria, voltei a descer para a cratera para me abrigar. Adeus pôr-do-sol romântico ! E, como não havia mais nada para fazer com aquele tempo, acabei por preparar a minha ultima refeição do dia e enroscar-me para dormir.
O tempo não me deu tréguas ! A chuva penetrava nas fendas do buraco onde me abrigava e começou a chegar ao meu saco-cama. Mais tarde, senti um brrruuuuum ao fundo. Interroguei-me se este vulcão ainda teria actividade ?!?! Poucos minutos depois explicava-se o ruído. Percebi distintamente que se aproximava uma trovoada! A tempestade aproximou-se velozmente com raios lancinantes seguidos de forte estrondo. O trovão, cada vez mais, colava-se ao relampago. Até que, após uns minutos de acalmia, que não inspiraram mais confiança, … sshhtraaat cabbuuuuum … quase em cima de mim !!! Tudo se iluminou e eu … cheguei a recear que a minha caverna se transformasse no meu túmulo !!!
De regresso, na manhã seguinte, perguntaram-me com espanto se tinha passado a noite lá em cima. É que tambem na Madalena a trovoada fora forte! O inicio do dia foi condescendente para a descida, mas quem começou a subir após as 10 horas tambem já não viu nada que não chuva (alguns dias depois, estava eu na Horta após percorrer a ilha de S. Jorge, e a montanha do Pico mostrou-se completamente limpa, para minha grande inveja). Fiz um corta-mato até à estrada (que poupa quase 2 km) disposto a seguir a pé até à Madalena, para melhor apreciar as Hortênsias e as vistas, quando um local me ofereceu boleia. Contou-me das aventuras da emigração da familia pelas Américas e da vontade de manter como está o nivel de desenvolvimento de S. Jorge: “as pessoas aqui não querem ter mais do que têm …”, exclamou.
De novo no kayak, atravesso o canal entre ilhas, desta vez com um mar mais agitado por pequenas vagas. De novo na Horta: objectivos 1 e 2 cumpridos !

Nas fajãs
Seguem-se passeios em S. Jorge e Pico, deixando o Faial para o final. Fujo do Pico por questões logisticas: não consegui alugar transporte (os automóveis estavam tomados e descubri que existe apenas uma scooter para aluguer em todas esta ilha !!!), os autocarros não tem horários muito convenientes e o tempo permanecia instável. Talvez no regresso ! Em São Jorge descubro, para minha admiração, a extraordinária e revitalizante beleza das paisagens, e a simpatia das suas gentes.
De Velas (porto de chegado do ferry) fui conhecer a zona de Rosais, no extremo Oeste da ilha, o parque das 7 Fontes com os seus miradouros que alcançam todas as ilhas em redor: a Graciosa e a Terceira, de um lado, o Pico e o Faial do outro. Espreitei a fajã de João Dias do cimo da descida vertiginosa. Prossegui de autocarro pela costa norte até atravessar a ilha de novo para sul, em direcção à Calheta. Perto, fica a fajã Grande, com um simpático camping junto ao mar. Aí estabeleci a minha base.
No dia seguinte parti para as fajãs do norte. Um jovem bancário dá-me uma preciosa boleia até à Serra do Topo, contando-me como costumava ir para lá surfar após o trabalho. Da estrada é possivel encontrar um caminho que desce para a fajã da Caldeira do Santo Cristo. A descida leva cerca de 2 horas e é simplesmente maravilhosa! Lá em baixo, reina grande calma ! Estão vários tendas montadas, mas ainda é cedo. Afinal, não há ondas e não se vêm os surfistas que tanta fama trouxeram a esta fajã. Daqui existe ligação para outras fajãs. Mais umas horas a caminhar naquela paisagem magnifica: observo flores como o Suspiro (nome dado localmente), que lembra as “lanternas” chinesas. Experimentei cortar os filamentos das pétalas para sugar o interior. Deveria saber a mel como me disseram, mas … nada! Há caminhos interrompidos devido a recentes deslizamentos de terras causados por fortes chuvadas. Mesmo assim consigo chegar à fajã de Cumbres. Por estrada subo ao topo, chuvoso, e de boleia retorno à base. Proximo dia, mais fajãs. Agora do lado sul: existe um percurso entre a fajã de Vimes e a de S. João. Uma subida interminável leva a Loural. Mais deslizamentos cortam o caminho. Mais adiante são as plantas que invadem o carreiro, quase pedindo o uso de catana para abrir passagem. Finalmente a descida para S. João. Daqui descubro novo carreiro que leva a S. Tomé, lá no alto. O pouco uso do caminho é revelado pelo muito mato. Em S. Tomé, para sorte minha, deparo-me com os preparativos para a tourada, daquelas que o touro corre pelas ruas... Quatro touros durante meia hora cada um. É uma tradição unica em S. Jorge, vinda da Terceira (a 29 milhas de distancia para norte), e atrai visitantes de toda a ilha. Tenho tempo ainda de visitar o Topo, zona de protecção especial, de terra fértil onde se planta alguma vinha e de onde se avista a ilha Terceira bastante perto. Ao final da tarde regressei à Calheta e decidi prolongar a minha estadia por mais um dia, para conhecer a fajã do Ouvidor de que tão bem me falaram. Outras fajãs houve que foram abandonadas após os tremores de terra de 1957, que causaram grande desruição nos caminhos e edificicações. Já não houve vontade para recuperá-los. Nessa noite fui dormir a Urzelina, que me constou ser interessante. Confirmo !

De bicicleta
Ultimo dia, após óptimos mergulhos no Ouvidor (nome que vem do padre que ouvia os crentes), tomei uma boleia de regresso, atravessando a ilha pelo seu ponto mais alto, o pico da Esperança. Todos os cantinhos valeram a pena e assim, acabo por calcorrear cada quilómetro de estrada principal e regional de S. Jorge (de um extremo ao outro da ilha são só 56 km). Fiquei a saber que visitei fajãs que nem alguns dos próprios locais conhecem e por todo o lado constatei a existencia de fontanários, de construção bastante antiga (datados de 1870 em diante).
De novo no Pico apenas me sobra tempo para conhecer a costa de paisagem protegida entre Madalena e Candelária. Aqui é plantada a vinha e produzido o original Verdelho. Em bicicleta percorro os carreiros até encontrar um agricultor. Ele dá-me uvas a provar: pequenas, doces e quase no ponto de serem colhidas ! A ponta do Calhau revela-se tambem um óptimo ponto para mergulhos.

Volta ao Faial
De novo na Horta e com dois dias para gozar, preparo-me para conhecer o Faial. Um dia para fazer mergulho e observar, a cerca de 22 metros de profundidade, alguns peixes como o papagaio (Véja) e a Barracuda. Outro dia para dar a volta à ilha numa lambreta. Espectacular ! Elejo os seguintes locais: Ponta do Salão, com piscinas naturais, camping aberto e águias a sobrevoar; miradouros da Ribeira Funda; Vulcão dos Capelinhos, com uma paisagem … diferente!; Varadouro, excelentes piscinas naturais; Caldeira, toda a paisagem …; os percursos em terra batida, na Serra da Feteira até Flamengos;
Não vá embora sem provar o espadarte do Peter’s Café, ou um bife de Albacora no Ó Lima (Horta), ou as “espécies” (bolinhos regionais, em forma de rosca com recheio) de S. Jorge.
Faltou-me cumprir o objectivo do whale watching, mas na verdade fiz um pouco de “watching whale watching”, ou seja, a partir de alguns miradouros naturais, a norte do Faial ou nas descidas para as fajãs do norte de S. Jorge, consegui avistar claramente alguns barcos de watchers a perseguir grupos de golfinhos. Os cetáceos raramente atravessam o canal devido à sua pouca profundidade (max. 209m.), mas encontram-se com frequência a sul do Pico e a Norte do Faial e de S. Jorge, por serem áreas de grandes profundidades. E sabe-se que algumas baleias gostam de se alimentar entre os 400 e os 1.000 metros de profundidade.
É caso para nos interrogar-mos: porquê viajar para muito longe, antes de conhecer esta beleza extraordinária aqui tão perto ?!

Texto e Fotografia
José Tavares














Do Aneto ao Mont Blanc

Nos Pirinéus e Alpes

Uma viagem a solo, para duas ascenções aos picos mais altos dos Pirinéus e dos Alpes: o Aneto (3.404) e o Monte Branco (4.871).

Partí numa carrinha, nos fins de Junho. Havia feito uma reserva no refugio Goûter no Monte Branco, para o inicio de Julho. Informara-me antes de que nos meses de Julho e Agosto aquela rota do Monte Branco era muito concorrida e, como tal, dificil conseguir lugar no refugio. Mesmo assim só consegui um lugar “par terre”. Tambem o degelo obrigava a progressões mais cuidadas naqueles meses de Verão.
Num interessante livro de montanhismo encontrara descrições das rotas do Aneto e Monte Branco, que me pareceram acessiveis, bem como do equipamento recomendado. Tinha ainda que passar por Andorra para adquirir algum equipamento que me faltava e visto o Aneto ser a um passo dali, nada melhor do que usar essa subida como treino e teste do material. Tambem de Andorra mandara vir um ano antes umas botas excelentes (Lowa) que usara na expedição ao Kilimanjaro e que permitiam o uso de crampons rápidos.
A viagem por Espanha já eu conhecia bem. Ao passar em Saragoça, lembrei-me que talvez ainda estivesse ali hospitalizado o alpinista João Garcia, em recuperação das graves maleitas sofridas no Everest. Pensei em parar para fazer uma visita, mas … talvez ele já não estivesse ali, ou talvez ele estivesse farto de visitas. Acabei por prosseguir, afinal tambem tinha o meu tempo relativamente contado.
Dispunha de 12 dias para ir … e regressar ao trabalho. Foi um daqueles repentes que me deu !!! “Tem que ser este ano !” E assim, contra a norma e a vontade do chefinho, consegui duas semanas de férias já em plena época alta de turismo no Algarve.
Aneto

Em Andorra demorei-me apenas o suficiente para comprar crampons e piolet. Depois apreciei alguns recantos dos Pirineus, como o vale de Benasques, que não conhecia.
Ja a meio da tarde cheguei ao vale na base do Aneto. Prossegui com a carrinha pelo carreiro de terra que corta o verde magnifico daquele chao que convida a acampar. Disseram-me que a carrinha nao passaria naquela pequena e estreita ponte mas … nao a conheciam como eu !!! Instalei-me estrategicamente e investiguei um caminho cá por baixo que permitia observar o cume nevado. Consegui detinguir uns pontos negros sobre fundo branco. Era um grupo que vinha a descer. Fiz algumas perguntas aos que chegavam, revi mentalmente os procedimentos do dia seguinte e preparei-me para dormir na carrinha. Conheci um grupo que partiria pelas 5 da manhã do refugio, uns 20 minutos mais acima. Acordei pelas 5, o tempo estava bom e rapidamente me pus a caminho, sem o conhecer. O frontal ajudava a destinguir o carreiro que subia. Ao passar pelo refugio ja estava mais claro. Pouco depois chegava a neve: era tempo de colocar os crampons. Enganei-me por pouco e tive que recuar para passar a fenda atraves da qual passamos a avistar o objectivo. Segue-se uma passagem mais cuidada num corredor de neve e depois chegamos ao manto de neve permanente. Nesta altura alcanço o grupo que com quem falara no dia anterior. Aqui o caminho parece mais facil, mas na verdade e por efeitos da altitude, a subida começa a pesar. A uns metros do topo temos uma parede quase vertical que so o facto de saber que o objectivo esta mesmo ali permite superar. Ja no topo a que ter cuidado ao passar por umas rochas estreitas para chegar o ponto certo, identificado por uma cruz.
Objectivo cumprido. Nao perco muito tempo e inicio a descida. Junto a carrinha encontro um bastão abandonado e sigo para um camping perto para tomar um banho e descançar.

Mont Blanc

Segui para França, por encontrei um caminheiro à boleia e levei-o até França. Contou-me que esteve durante 10 dias a caminhar em autonomia pelos Pirineus. Era vendedor de automoveis !?! Agradeceu-me e ofereceu-me uma cerveja. Prossegui ate … onde cheguei ao final do dia. De manha estava em Chamonix. 1º passo: ir à informação turistica e à casa de guias, para obter informação sobre a metereologia e, já agora, o preço de um guia: 90 contos para um ou dois clientes !!! Fora de questão. Tive que esperar dois dias por uma melhoria. No refugio consentiram o adiamento pois houve desistencias. No entretanto, fiz uma natação na piscina publica que estava quase vazia de pessoas. Optimas braçadas com os picos nevados do maciço em fundo. Finalmente uma aberta e tomei o teleferico. Vou tomando as medidas a algumas pessoas… Chegamos lá acima e esperamos pelo pequeno comboio que nos leva aos 2.000 e muitos metros. Continuo a tirar medidas … À medida que começamos a caminhada vamos fazendo conversa uns com os outros. Conheço uns ingleses, mas estes são lentos e vão de calções !?! (reparei depois que ficaram no 1º refugio). Por esta altura conheço 2 espanhois e é com eles que prossigo até ao próximo refugio …Goûter a 3.700 a metros. Aqui paguei 95 Fr pela estadia + 27 por uma sôpa + 40 Fr. pelo petit-dejauner. Eu levava uma lata de ravioli, para poupar dinheiro, mas arrependi-me ! (embora tivessem sido muito simpáticos ao aquecer-me a lata). Concluí: mais vale pagar pelo jantar garantindo um lugar sentado do que carregar uma lata montanha acima para jantar sentado nos degraus. Naquela noite senti alguma dor de cabeça que resolvi com aspirina. Todos se deitam cedo pois a alvorada é dada pelas 2h00 da matina. Eu já estava acordado e percebi que o alarme nao tocava … o tempo estava bera. Nao haveria partida. De manhã pelas 09h00 ainda subi um pouco mas … não havia alternativa. De noite caira um nevão grande. O caminho de regresso estava bastante disfarçado e descemos encordados. Foi a meio desta descida para o 1º refugio que assisti a uma cena assustadora que por um triz não teve consequências muito trágicas. Numa cordada de 2, que seguia num grupo atrás de nós, um dos alpinistas supostamente colocou mal o pé e bateu com o crampom numa rocha, sendo projectado para a frente. Ouvimos gritos e, ao olhar, só vimos dois homens a resvalar na neve e um deles a conseguir atirar-se para trás de uma rocha grande. Deste modo ficaram os dois caidos, um de cada lado da rocha, e pendurados pela corda que os ligava. Abaixo daquela rocha milagrosa ficava um escorrega de neve que se perdia no vazio … Um guia, a quem já tinhamos batizado de “russo” sai a correr imprudentemente na neve fofa para deter a queda (como se fosse possivel !!!), com perigo evidente para ele,. . .


Texto e Fotografia
José Tavares










Pico Mulhacén

Subida ao ponto mais alto de Espanha continental

Fica a 3.482m de altitude, na Serra Nevada. É o cume mais elevado de Espanha continental. Desde Granada e da estância de ski, apenas se avista o Pico Veleta, com 3.398m. O cume mais elevado de toda a Espanha é, no entanto, o Pico de Teide, em Tenerife.

Estávamos a treinar para a Expedição ao Aconcágua e queriamos andar carregados por alturas mais elevadas, com tempo frio e, se possivel, ar mais rarefeito. As opções viáveis eram Gredos ou S. Nevada, consoante o tempo permitisse. Escolhemos o mais elevado da Peninsula, com 3.482 m.
Saímos de Lisboa na madrugada de 6ª feira. Chegamos a Granada ao fim de 8,5h. De caminho, via Beja/V.V. de Ficalho/Sevilha, cruzámo-nos com filas de espanhois a caminho do nosso país, para aproveitar aquele feriado de Novembro.
Levávamos duas alternativas de percurso e, parados frente ao camping El Purche, decidimos começar em Pradollano (2.100m) por ser um percurso mais certo e para passar mais tempo a maior altitude. O objectivo principal era o treino e o conhecimento entre os elementos que iriam participar na Expedição ao Aconcágua, no inicio de 2003. O segundo objectivo era chegar ao cume mais alto de Espanha continental, após algumas horas de caminhada em declive, dormir num dos refugios da base e caminhar mais umas horas no dia seguinte, utilizando exactamente o equipamento da expedição.
Na primeira noite acampámos perto do albergue Universitario de Sierra Nevada, a 2.550m (só é permitido acampar “selvagem” acima dos 2.000m). Durante a noite o vento soprou forte, mas não estava demasiado frio.
Começa o dia (pelas 7h00), descemos a Pradollano com o sol a surgir e partimos serra acima, demorando 3h40 min. para chegar ao refugio Veleta, na crista da serra. O Amadeu do “Grupo da Bolha” vem um pouco mais atrás. O Rui, que seguia na frente, desenvolveu uma teoria interessante para justificar as suas capacidades: como fumador utilizava apenas 80% dos pulmões e em altitude passava a utilzar tambem os outros 20% pelo que … Qualquer coisa assim !!! Fazemos uma pausa e levamos outra hora e 20 para chegar à base do Mulhacén e mais 50 minutos para alcançar o topo. Admiramos a paisagem a todo o redor por bons 30 minutos. De regresso, encontramos o refugio cheio e arriscamos até outro refugio mais pequeno, onde chegamos pelas 18h00. Começa a escurecer e a temperatura a descer. Optamos por não continuar até ao Veleta, apesar de ali ficarmos apertados. Os 8 lugares estavam ocupados mas convencemos os Espanhóis de que ali caberiam mais 4. Entretanto foram chegando mais pessoas e não podiamos recusar a sua estadia. Acabaram por ficar instalados 18 !!! O pior foi quando os primeiros começaram a fumar “porros” … A noite não foi fácil para alguns. No exterior um relógio medía 6º, mas o vento empurrava, por certo, esse valor mais para baixo. Na manhã seguinte os tugas tiraram a sua desforra. Acordámos pelas 07h00 e para sair, entre resmunguices, tivemos mesmo que pôr todo o restante grupo a pé.
Contornando o Pico Veleta, descemos em 3 horas até Pradollano, pela via que a maioria utiliza para subir. Estava completa a missão e era tempo de regresso, pois o elemento internacional - Mark - tinha que apanhar o avião de regresso à Holanda.
Texto e Fotografia
José Tavares




Guia:
Encomede-nos o guia completo “Subida ao ponto mais alto de Espanha continental”, por apenas 10 € (tm. 93 8608797 ou mail: active.outdoors@clix.pt).

PICOS DA EUROPA

Ascenção ao cume e outras caminhadas.

Os famosos Picos da Europa oferecem paisagens de beleza espectacular, em zona protegida, e ganharam o seu nome nos tempos em que os navegadores vinham das Américas e o primeiro ponto do continente europeu que avistavam eram os picos daquelas altas montanhas.
O pico mais alto é o Torrecerredo (2.648 m.), mas o mais visitado é o Naranjo de Bulnes, um magnifico menir que rompe as nuvens com os seus cerca de 400 m. na vertical.

- A caminho do cume
Os picos da Europa localizam-se numa área que faz fronteira entre as provincias das Astúrias e da Cantábria. O primeiro objectivo é chegar ao refúgio de Uriello, exactamente na base do Naranjo. O acesso faz-se por Sudoeste (Astúrias), via Cangas de Onis-Sortres, ou por Nordeste (Cantábria), via Fuente Dé. De qualquer dos lados é necessária uma boa caminhada de 3-4h para chegar ao refúgio Uriello (na base do Naranjo), embora a via Este seja mais longa e mais movimentada, porque tem um funicular que ganha muitos metros de subida, e tambem mais fácil. Dá para vários gostos. Desde o Naranjo o caminho é relativamente fácil, no sentido Este, demorando 2 horas até à base do Torrecerredo e mais uma hora até ao topo. Esta parte é a mais complicada e a ultima meia hora é feitas com as mãos na parede. Embora não sejam necessários meios técnicos, convem tomar todas as precauções e uma corda de segurança não é demais. Curioso é que não avistamos o cume do Torrecerredo senão quando estamos em cima dele e, por isso, ficamos com a sensação que este não é o pico mais alto até estarmos a 5 metros do topo. É que mesmo em frente do Torrecerredo (nas costas de quem sobe), na outra ponta deste anfiteatro aberto a Norte, está o cume La Párdida, com 2.596 m., que parece sempre mais alto até ao ponto em que realmente estamos acima dele. Do cume do Torrecerredo a vista é soberba, em todas as direcções. O Naranjo (2.519m.) fica, infelizmente coberto pelo La Párdida, mas a paisagem lunar em redor, por vezes acima das nuvens, transmite-nos sensações óptimas.
O Naranjo chama-se na verdade pico Uriello e constitui uma tentação para escaladores. O grau de dificuldade é mais elevado, apresentando uma passagem de grau 5 na via mais fácil. Conta a história que o seu cume foi alcançado a 4 de Agosto de 1904, por um aristocrata asturiano, um certo Don Pedro Pidal, marquês de Villiaviciosa, que se propôs conquistá-lo quando soube da noticia que um austriaco (o geólogo e alpinista Gustavo Schulze) se preparava para ser o primeiro a fazê-lo. Don Pedro, homem decidido e desportista, munido de grande patriotismo, mas nem por isso de equipamento técnico (ao contrário dos austriacos), contratou para o acompanhar o pastor que melhor conhecia a zona – Gregorio Perez “El Cainejo”. E assim fez história, sendo o seu mérito reconhecido inclusivamente pelos próprios austriacos.

- A rota do Cares
Talvez a rota mais fácil, entre Poncebos e Cain, com uma distancia de 12 km. No entanto para deixar a viatura no outro extremo é necessário percorrer cerca de 60 km por estrada, por isso, os caminhantes optam normalmente por fazer o caminho de regresso. E as vistas não cansam porque cada curva apresenta rochedos e ravinas realmente impressionantes.

- Os lagos
Passando por Cova D’Onga, local histórico de muito interesse, iniciamos uma subida demorada e ingreme até ao planalto dos lagos. Alí é permitido acampar e existem 2 restaurantes/abrigo de apoio. A partir desse ponto as opções são várias, mas a nossa escolha recaiu no Peña Santa, por ser um dos picos mais altos (2.582 m.) e o itinerário oferece vários pontos de vista excelentes (inclusive é possivel fazer a ligação a Cain/rota do Cares, mas por caminhos não indicados). Um episódio interessante aconteceu de madrugada, ainda escuro, quando as vacas começa a descer do monte, atravessando o acampamento ruidosamente com os seus badalos. Estava o dia a nascer e várias pessoas vieram espreitar. Entretanto as simpáticas vaquinhas iam rominando e largando bostas junto das tendas e apanhando o que podiam da entrada destas: restos de comida.

Para obter dossier técnico com descrição detalhada do equipamento e dos percursos: enviar 12 € para R. Bernardim Ribeiro, 8 – B – 1º, 2780-429 CAXIAS, em nome de “Wild Side”.
Para treinar para esta subída ou contratar guia, contactar: Active Outdoors pelo e-mail: active.outdoors@clix.pt ou tm: 93.8608797.

Texto e Fotografia
José Tavares




























KILIMANJARO

A minha subida ao "tecto de África".

Texto e Fotografia
José Tavares

Fica no norte da Tanzania, fazendo fronteira com o Quénia. É o maciço mais alto de toda a África, com o cume a 5.895 metros de altitude e é conhecido como o "tecto de África". O seu topo com neves permanentes concentra 20% do gêlo de toda a África. É o Kilimanjaro ! Fonte de lendas e inumeros escritos, o seu parque é visitado anualmente por cerca de 70.000 pessoas. Só alguns logram alcançar o ponto mais alto - o Uhuru peak.

Era uma madrugada de Dezembro. Sonolentos, olhávamos os écrans no avião: altitude: 5.000 m.; velocidade: 700 km/h; temperatura exterior: - 14°; Estávamos a chegar e dali a dias estariamos áquela altitude ... ! Pouco tempo depois aterravamos, os novos dados então indicavam: duração (da viagem): 7 h; hora local: 6.00 (em Portugal eram menos duas); temperatura exterior: 16°; altitude: 1500 m. Estávamos em Nairobi, no Quénia.
À nossa espera, chegados em vôos diferentes, estavam o Angelo e o Uwe (este vindo da Alemanha). A viagem, idealizada pelo Clube X e com a participação do Clube Expedição, começou a ser organizada com cerca de um ano de antecedência e apenas a alguns meses da partida iniciámos os preparativos especificos como vacinas, testes de equipamento e treinos conjuntos etc. Mas agora, a equipa de 9 elementos juntava-se toda pela primeira vez.
Pouco depois chegava o Sr. Mmari, o organizador dos nossos guias (para entrar no Parque Nacional do Kilimanjaro é necessário pagar uma taxa e ter guias credenciados). Alto e com um grande sorriso, avisava "o autocarro chega às 8.30 em ponto". Sim, a carrinha chegou a horas ! Nós olhámos lá para dentro e interrogámo-nos como é que iam ali caber mais 9 pessoas ! Mas no corredor de passagem havia realmente bancos desdobráveis e, 'bem medidas', couberam ali 25 pessoas, ... exactamente a lotação da carrinha, afinal. Foi a primeira impressão sobre organização, nestas paragens de África ! As mochilas acomodadas no tejadilho e, às 8h45, partíamos em direcção a Arusha, na Tanzânia, a 280 km de distância. A viagem durou 5 horas contando com a passagem da fronteira, onde os guardas, mais expeditos do lado tanzaniano do que do lado quéniano, despacharam a 'burocracia' em alguns minutos. Aínda no lado quéniano uma multidão de locais tentava fazer negócio: jovens com iniciativa faziam cambios "à melhor taxa"; mulheres Maazai, com orelhas distendidas e esburacadas, vendiam todo o tipo de pulseiras e bugigangas. A viajem prosseguio ao som ‘reggae’ de Lucky Dube - o Bob Marley sul-africano, muito ouvido naquelas paragens. Já com o Mount Meru em fundo (o 3º pico mais alto da Tanzânia), começámos a ver pastores Maazai a conduzir o seu gado ao longo da estrada, vimos girafas e avestruzes embrenhadas nas Acácias da savana e admirámos a extenção do planalto.
Por fim, chegámos à Casa Victória, em Arusha, onde estabelecemos a nossa base. Ali fomos bem acolhidos, as camas tinham redes mosquiteiras, os pequenos-almoços eram abundantes em fruta, enfim, ... deixaram-nos tão à vontade que certa noite tomámos conta da cozinha, organizámos uma ceia muito especial e convidámos os próprios anfitriões.
Nos passeios pela cidade, de cerca de 200.000 habitantes, percebia-se a pobreza geral. Éramos abordados com frequência por vendedores de rua que nos queriam mostrar o artesanato por eles fabricado como estatuetas, panos coloridos com desenhos, colares etc., mas também mapas e as mais recentes edições de revistas estrangeiras !


O dia da 'grande partida' chegou. Entrámos nos 2 jeeps e fomos conduzidos ao sopé da montanha, mas não sem passar por alguns percalços ... A chegada a Machame Gate, uma das entradas do parque, parecia uma prova do Camel Trophy, com os jeeps a atravessar-se e a atolar na lama. Ajuda dos locais para empurrar não faltou ! Mas mesmo assim ... Por fim abandonámos as viaturas e carregámos as mochilas durante os 20 minutos que nos separavam do ponto oficial de partida. Harold, o guia, e Félix, o cozinheiro (elemento não menos importante nesta expedição), organizaram o grupo de 16 carregadores de entre os quase 30 que alinharam à espera de ser “os eleitos”. Logo confraternizámos, pois todos são muitos afáveis e comunicativos, querendo saber novidades dos nossos países de origem e começando, desde logo, a dar a entender que no final receberiam de bom grado qualquer “presente”. Enfim, tudo estava pronto ! O Harold fez-me sinal para soprar forte no apito. Aos poucos, a 'caravana' começou a andar e logo se ouviram os carregadores avisar: "pole pole ... pole pole ..." (devagar). Mais cedo ou mais tarde os efeitos da altitude iam fazer-se sentir ...
A via utilizada foi por nós escolhida como segunda alternativa dado aquela que pretendiamos seguir inicialmente, a mais dificil, estava anormalmente cheia de gêlo e exigia algum equipamento com que não contávamos. Mesmo assim, esta via - Machame/Barafu - é consideravelmente mais exigente do que a via de Marangu, ou via da "coca-cola", como é conhecida e que é utilizada em quase 90 % das tentativas de ascenção, com maiores probabilidades de sucesso.
A nossa expedição impressionava alguns, com quem nos cruzava-mos no caminho, pelo numero de pessoas envolvidas (27 ao todo) e, talvez, pelos nossos equipamentos (todos tinhamos casacos da mesma marca, e alguns deles ... bem coloridos !). Pelo contrário, alguns daqueles com quem nos cruzámos seguiam mal equipados e as consequências chegaram a ser a desistência.
Nos dois primeiros dias a chuva caiu persistente a partir do meio da manhã. À chegada aos acampamentos, os carregadores, ensopados, amontoavam-se nas «cabanas» em redor de uma fogueira para se secarem e aquecerem. Na segunda e terceira noites não tinham cabanas, ficando em cavernas apertadas, improvisadas nas rochas. E, por ali dormiam ! Nas manhãs seguintes a cena repetia-se: alguns carregadores e os cozinheiros faziam fila frente à tenda da Joana para esta lhes pôr os “milagrosos” pingos nos olhos, irritados do fumo. Os variados remédios, que levámos em quantidade excessiva, vieram, aliás, a servir mais para os carregadores do que para nós próprios. Problemas de saúde tivemos dois casos, ambos relacionados com o "mal da altitude".
Ao terceiro dia, com um amanhecer radioso que nos permitiu avistar pela primeira vez o cume gelado do “Kili”, o Angelo queixou-se de náuseas e dores de cabeça, sintomas tipicos daquele mal (era o primeiro caso). Tomou uma boa dose de Lediamox e seguio devagar. Nesse dia partimos dos 3.600 m. para alcançar os 4.600 m. e voltar a descer aos 3.800 m. Com a aclimatização as coisas compuseram-se.
Num ponto alto, olhando para trás, vimos ao lado do local do ultimo acampamento, com o Mount Meru ao fundo, o planalto de Shira onde, segundo o Harold, já foram avistados bufalos e, mais raramente, leões. No vale de Barranco montámos o 3º acampamento. Alí predominavam os Senécios (espécie de cacto que lembra pequenas palmeiras), muito visitados por colibris de cores verde e azul carregado e cintilante como seda. A variedade de aves é uma das riquezas faunisticas deste país, como constatámos.
As nuvens subiam o vale, vindas de sul, e desapareciam tão depressa como haviam chegado. Mas só na manhã seguinte nos apercebemos da dimensão do maciço rochoso que ficava á nossa frente e que iamos ter que subir. Uma parede abrupta de cerca de 150 metros de altura. Chamavam-lhe o “breakfast”, por ser o primeiro obstáculo a enfrentar pela manhã. Era realmente impressionante, mas logo que alcançamos o topo, demandámos em desafio: “isto era o ‘pequeno-almoço’ ?!?, então mandem-nos o almoço ...!”. Era o quarto dia e alcançámos o novo acampamento - Barafu - a 4.800 m., por volta das 5.00 da tarde. Apressámo-nos a comer e a descançar porque exactamente à meia noite íamos sair para atingir o Uhuru Peak - o cume do Kilimanjaro.
O frio era intenso. Era altura de usar todos os trunfos quanto a roupa leve e ‘quentinha’. Preparámos uma mochila ligeira, apenas com liquidos hidrantantes e reforços energéticos e, à luz de frontais e tochas saímos no breu da noite. O passo era lento e ritmado. A cada 10 minutos uma curta paragem para recuperar o fôlego, mas não por mais de 2 minutos para não arrefecer demasiado. Podiamos ver ao longe no planalto, em baixo, as luzes da pequena cidade de Moshi. A nitidez do céu estrelado era petrificante. Começámos a caminhar na neve. O declive acentuou-se e a cadência do passo diminuía. O Uwe adoptava a técnica de Kastinger, o famoso montanhista. Saía disparado para a frente e depois recuperava, esperando pelos outros.
Surgio, então o segundo caso do ‘mal da montanha’: a Ana começou a sangrar do nariz e boca, atrapalhando-se com a respiração. Estávamos acima dos 5.000 m. e decidiu-se que ela descia acompanhada do Oscar e do segundo guia, N’charo.
O dia começava a clarear. Visto dalí, o nascer do sol, ao lado da silhueta do Mawenzi (a terceira maior elevação de África, com 5.151 m.), foi fabuloso. Pouco a pouco, os 7 elementos e o Harold alcançavam o Stella Point a 5.715 m. Eram 7.30 da manhã. Aínda antes disso cruzámo-nos com um Inglês, que nos havia acompanhado nos 2 primeiros dias: “my toe is numb”, queixou-se ele. Preferiu descer a ficar com algum dedo congelado. Ele foi um dos que teve azar com os guias, tal como um casal de simpáticos holandeses que nos acompanharam no segundo dia e tiveram que desistir, logo ali, porque guias e carregadores não chegavam com a comida e a roupa seca para se mudarem.
Voltando ao Stella Point ... Agora faltava uma curta passeata de 30 minutos, em declive brando, para alcançar o ponto mais alto de África.
5.895 m. !!! Eram 8 horas quando chegámos. Ali encontrámos a bandeira da Tanzânia e uma caixa de metal que continha um livro ... congelado ! Aquele ninguém conseguiria assinar ! Permanecemos cerca de meia hora para as fotografias da praxe e voltámos a descer. Junto ao Stella Point cruzámo-nos com várias pessoas que haviam utilizado a 'Marangu route'. Todos nos saudávam. Uma rapariga asiática confessou-nos: costumava treinar-se a andar cerca de 3 horas dentro dos centros comerciais em Singapura, mas nunca tinha subido uma montanha.
O Uwe e eu demorámos hora e meia a regressar à base em Barafu. A subida havia levado mais de 6 horas. O calor era, agora, abrasador. Necessitámos de muitos liquidos e algum descanço para recuperar. Depois de todos reunidos e após o ‘sempre presente’ e reconfortante chá, desmontámos o acampamento e descemos, por um novo caminho, até Mweka Hut. Dada a quantidade de percipitação ocorrida recentemente, esta vía estava interdita para as subidas. Os muitos rêgos e buracos deixavam perceber porquê. Ao fim de 4,5 horas estávamos no ultimo acampamento desta aventura. Essa noite seria realmente bem passada. Ao sexto dia abandonávamos o parque do Kilimanjaro. À chegada a Mweka Gate (a saída), depois de mais 3 horas a descer, esperavam-nos a restante comitiva e o sorridente Sr. Mmari, com um apetitoso e ‘bem vindo’ lanche. Depois vieram as ‘formalidades’, isto é, receber o diploma a atestar que alcançámos o ‘tecto de África’ e preencher o livro de honra. Neste, ficámos a saber que desde o inicio do verão nenhum outro português passara por alí.
Mas, carregadores e guias gostaram de nós. Era tempo de despedidas e distribuição de lembranças. Mais tarde tornaríamos a encontrar alguns deles já que, após um dia de descanço, seguia-se um safari no Serengueti e outros parques.
Tinhamos alcançado a nossa pequena “proeza”, mas todos concordámos que os verdadeiros herois foram os carregadores, porque sofreram o esforço da subida com muitos quilos à cabeça. Lá em cima, um sentimento de comoção apoderara-se de alguns, mas uma verdadeira descarga de adrenalina só aconteceria dias mais tarde quando, numa noite do safari, um leão resolveu aproximar-se das tendas em que acampáva-mos e ... rugio !
Impõe-se agora, como próximo objectivo, passar a barreira dos 6.000 m. Quando ? Não se sabe aínda. Para já há outros objectivos muito interessantes e bem mais perto de nós !

Guia completo:
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Pico del Teide

A minha subida ao ponto mais alto de Espanha

Onde é que se pode subir dos 2 aos 2.200 metros numa hora, ao fim de apenas 50 kms ??? Em Tenerife !!!

Este foi o tempo que gastei e a distância que percorri de carro, para chegar à base do Teide. Dali inicia-se a ascenção, a pé, até ao ponto mais alto de toda a Espanha - o Pico del Teide, a 3.718m.
Saí de Las Caletillas (a Este da ilha e a cerca de 15 km a Sul de Santa Cruz), pela auto-estrada TF1 até Guimar, e subi em zigzag a parede do antigo vulcão Las Cañadas até alcançar a estrada TF24 (que liga La Esperanza a Teide), na crista da montanha. De caminho retive excelentes paisagens da costa ao nascer do dia e da Gran Canaria a uns 50 km para Este. Não podia parar mais tempo para as fotos pois o sol já ía alto. Às 9.00 cheguei ao Centro de Visitantes na base do Teide. Estacionei, retirei a mochila do carro, apliquei o protector solar e comecei a caminhar no sendero 6 … (o sendero 7 é o mais curto, directo e utilizado).
Tive sorte com o tempo: o céu encontrava-se limpo (tive o sol sempre pelas costas, inclusive na descida) e o Teide esteve completamente descoberto durante toda a manhã (o tempo é muito instável nestas latitudes e altitudes e não se conseguem obter previsões seguras). Via apenas algumas nuvens, abaixo de mim, sobre o mar, entre tenerife e Gran Canaria (poucos minutos depois de chegar ao cume, no entanto, vieram as primeiras nuvens encobrir o Teide e por isso não me demorei muito lá em cima – mas estas não atrapalharam a não ser as fotografias). Parece ser esta a constante: o cume fica nubelado ao principio da tarde.
No dia anterior procurei tratar do “permisso” de subida ao pico, em Santa Cruz e reconhecer o local de partida. A autorização é obrigatória para poder subir ao cone do vulcão, caso contrário não nos deixam passar da rambleta, 150 metros abaixo do cume. No Centro de Visitantes disseram-me que a duração normal da subida seria de 7 horas. Calculei então que teria que chegar ao topo até às 16h00, o mais tardar, para ter tempo de regressar com a luz do dia. Afinal, demorei 4h05 a atingir o cume e ao fim de 7 horas estava de regresso ao ponto de partida. Mas nem por isso foi fácil ! Vi casais em dificuldades ainda antes de chegarem ao refugio (vi outros a descer logo pela manhã e outros a iniciar a subida a meio da tarde !?!?). Na verdade, planeara inicialmente uma subida mais demorada, partindo do vale de La Orotava, mas isso teria exigido mais do que um dia de caminhada com eventual pernoita em camping ou no refugio …
Na parte inicial do percurso o desnivel é suave e gradual. Caminhei rápido e pude observar vestigios do Muflón (cabra montês), espécie introduzida que deverá ser retirada por estar a causar danos à vegetação. Aqui e na subida para o refugio (onde havia vegetação), ví inumeros gafanhotos pequenos (alem destes, coelhos e lagartos tizón são os animais mais comuns). Na Montaña Blanca o declive acentua-se e é muito interessante observar os “huevos del Teide”: enormes blocos arrendondados de pedra negra que rolaram do vulcão. Da Montaña Blanca ao refugio, a subida é mais vertical e então percorremos uma estreita faixa em “s”, com muita pedra solta. Em todo o percurso podemos observar os contrastes de côr entre secções da terra e da rocha expelida do vulcão. Do refugio até à rambleta (a mais de 3.300m.), a subida de tipo escadaria seria mais fácil não fosse o ar da altitude a cansar. A partir da rambleta observamos o enorme cone do vulcão adormecido e faltam apenas os 150 metros quase verticais até ao cume. Finalmente, em redor da cratera do cume a pedra é barrenta e esverdeada e cheira-se o enxofre. A paisagem é desumbrante. Objectivo cumprido ! Lá em cima encontrei um casal de austriacos (a maioria das pessoas que vi no caminho eram alemães ou espanhóis) e trocámos fotografias. Desfrutei da magnifica visão sobre as nuvens, por uns minutos . . . e regressei.

Texto e Fotografia
José Tavares
Guia completo:
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Toubkal

O Clube Expedição 'ataca' o Toubkal

Num programa misto de BTT e caminhada trekking o Clube Expedição realizou uma fabulosa travessia pelo Alto Atlas em Marrocos. As etapas em bicicleta de montanha é o que passamos a descrever.

A expedição partiu de carro até Algeciras, tomou o barco para Tanger e seguio de comboio até Marraqueche. Esta parte da viagem constitui outro tipo de aventura, pelo incómodo e peripécias que gera. Mas a verdadeira travessia começa então em Marraqueche (450 m. de altitude). A primeira etapa faz-se até Asni, 47 quilómetros mais a sul, ligeiramente a subir, com 10 km de subida mais acentuada à chegada daquela vila (a cerca de 1.000 m.). Aqui e pelo caminho já se pode observar de perto as parcas vidas dos povos berbéres, mas também belas paisagens de vales verdes rodeados de terra avermelhada. Em Asni instalámo-nos no albergue depois de rejeitar inumeras ofertas dos habitantes locais, sempre prontos a 'ajudar', para pernoitarmos em 'verdadeiras casas berbéres'. Um verdadeiro hotel também ali existe, mas muito mais caro que os 20 dirhames (DH), cerca de 400 esc., pagos no albergue.
A partir de Asni termina o asfalto e são mais 17 km a subir, para sul, até Imlil (1.700 m.). Saímos às 8 horas (nestas paragens amanhece às 6h30 e escurece às 17h30), pelo caminho a paisagem, os vales verdejantes, as aldeias de casas amontoadas nas encostas da montanha, as pessoas que vão passando, são espantosas. Em Imlil ficamos instalados no albergue da juventude, o unico refugio possivel. O custo são 30 DH (cerca de 600 esc.) e tal como os outros preços, vão subindo à medida que se sobe na montanha (1,5 l de água engarrafada já custa cerca de 200 esc. - a àgua dos rios e torneira não é potável e dali para cima não é mais possivel comprá-la). De Imlil até Nenfter (3.200 m.), o ultimo refugio, o caminho já é para cabras e mulas. Como chegámos a Imlil às 12 horas, resolvemos arriscar e fazer as 4 a 5 horas a pé até Nenfter antes do anoitecer. Ainda assim encontramos um japonês solitário, que desce em sentido contrário, montado na sua mountain bike. "The way is ruff" explica ele. As nossas bicicletas ficam no albergue em troca de mais alguns dirhames. No dia 26 de Outubro partimos, às 7 da manhã, para alcançar o pico do Toubkal a 4.167 metros, o mais alto da Àfrica a norte do Saara . Connosco estão vários franceses com o mesmo objectivo. Por volta das 11 horas estamos no topo. Está sol e o frio é suportável mas cedo descemos para fazer todo o caminho de regresso a Imlil. No abrigo de Nenfter paramos apenas para uma refeição ligeira e chá quente. Após tantas horas a andar chegamos ao albergue pelas 18h00 e às 19h00 estamos a dormir a mais repousante das noites.
No domingo partimos de bicicleta montanha acima, mas noutra direcção - Este - para alcançar o 'vale perdido' de Tachdirt. Para isso subimos em pista até um cume de mais de 2.000 metros de altitude onde está, para nosso espanto e alegria do Zé Maria, um pastor sózinho a vender coca-colas. Depois do refresco 'prometido' iniciamos uma longa, algo acentuada e saborosa descida até Tachdirt onde chegamos em cerca de 30 minutos. A subida do outro lado levára duas horas e 45 minutos. Agora temos que alugar uma mula para transportar bicicletas e mochilas montanha acima até aos 2.900 m. Os primeiros carregadores dispõem-se de imediato a fazê-lo apesar de ser já meio do dia e após negociarmos o preço (as mulas alugam-se normalmente ao dia por 75 a 100 DH). Chegádos ao topo avistamos de novo o cume do Toubkal com alguns farrapos de neve e a pista parece boa até ao vale de Oukaimedene, para onde nos queremos dirigir. Na descida até ao vale, digna de um 'down-hill', acontece uma saída do trilho que resulta num furo, pois há muita pedra e afiada. Na aldeia berbére de Oukaimedene, conhecida já pelas pistas de ski que partem dos 3 mil metros, separam-nos 78 km de Marraqueche em asfalto. Os primeiros 30 são em descida acentuada e ininterrupta e cumprimo-los em cerca de 40 minutos. Com o entardecer chegamos de novo a Marraqueche, por uma estrada que parece a direito mas é ligeiramente a descer e por isso fácil.

Percorremos assim cerca de 180 km mais alguns a pé e de mula. A travessia correu conforme previsto sendo de alertar para a necessidade de planear todo o peso a transportar e a distribuição deste na bicicleta, bem como a duração das etapas para que não se seja apanhado no escuro e frio da noite na montanha.
Restam excelentes memórias, algumas indescritiveis, e muitas fotografias, bem como planos de organizar novas expedições com mais acompanhantes, naqueles e noutros percursos.

Texto e Fotografia
José Tavares